Engenharia no topo do ranking das universidades
Economia em alta e previsão de grandes investimentos em infraestrutura seriam algumas das razões para essa posição inédita
Um levantamento do Ministério da Educação revela que, pela primeira vez na história do ensino superior brasileiro, o número de calouros de Engenharia superou os de estudantes que ingressaram em Direito. Os dados oficiais são de 2011 e mostram que o interesse ainda não é suficiente para reduzir o déficit de engenheiros no mercado. Naquele ano, 227 mil alunos passaram a cursar Engenharia, número que representa 10% do total de inscritos nas universidades do Brasil. Deste total, 45 mil concluíram o curso. A necessidade do mercado, no mesmo período, era de 70 mil profissionais. Passados dois anos, a demanda ainda persiste.
Além dos formados anualmente, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) estima que seriam precisos ainda 20 mil novos engenheiros por ano para atender diversos setores do País. A revista do CREA-PR foi buscar junto às instituições de ensino superior paranaense a opinião de professores e coordenadores de curso sobre a questão.
Momento histórico
Para o professor Wilian Barbosa, do curso de engenharia mecânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a pesquisa do Ministério da Educação mostra a maturidade do País em formar mais engenheiros, com foco no desenvolvimento. “Estudos apontam que 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional é fruto das Engenharias, o que evidencia a necessidade de mais profissionais para o crescimento e desenvolvimento do Brasil”, explica. No entanto, ele não acredita que o aumento do número de estudantes ou concluintes reduza o déficit da área. E justifica sua opinião, afirmando que a demanda por profissionais engenheiros cresce mais do que a capacidade de formação do sistema de ensino. De olho nesta carência por profissionais, há quatro anos a UFPR ampliou o número de vagas na área com a criação de dois cursos noturnos: engenharia elétrica (60 vagas) e mecânica (90).
De acordo com Barbosa, o aumento de interesse pela Engenharia pode estar associado à explanação de assuntos na imprensa referentes à área, como a exploração de petróleo no pré-sal, obras da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, implantação do Metrô, safra agrícola recorde, aplicativos computacionais e telecomunicações, entre outros.
“Isto cria no jovem o desejo de ser engenheiro”, exemplifica. “Mesmo com um elevado número de estudantes que não consegue se formar, acredito que este é um momento histórico, de valorização da Engenharia pela sociedade. Os frutos a serem colhidos serão saborosos, permanentes e sustentáveis”, atesta.
Profissão do futuro
O coordenador do curso de engenharia civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Ricardo Bertin, vê esse novo cenário como reflexo do aquecimento do mercado da Engenharia como um todo e, em particular, o da construção civil. “O levantamento do Ministério indica também que, com a melhoria da condição econômica da família brasileira, o jovem tem buscado carreiras com investimento mais elevado, com maior possibilidade de colocação e melhor salário”, constata. Para Bertin, o aumento do interesse pela Engenharia pode reduzir o déficit de profissionais na área talvez no curto prazo. Entretanto, ele avalia que em um País de dimensões continentais e com urgência de obras de infraestrutura em transportes, abastecimento, energia elétrica e saneamento, haverá sempre a necessidade de mais engenheiros. “Levando em consideração que somente 15% dos jovens brasileiros entre 18 e 25 anos estão na universidade, há que se pensar na expansão da oferta de vagas com qualidade a longo prazo, para que a demanda por bons engenheiros seja atendida”, acredita.
Para o professor Bertin, a escolha de uma profissão decorre de pragmatismo econômico ou vocação. E o crescente interesse pela Engenharia acontece porque o mercado está remunerando bem este profissional. “A carreira tem apelo no imaginário do jovem criativo com vocação de construir um País melhor e mais justo”, afirma. “Além disso, a oferta de empregos agregados aos novos empreendimentos está gerando a demanda por mais profissionais da Engenharia. Acredito que o aumento da procura pelos cursos estará sempre ligado aos setores de infraestrutura empregadores, como construção civil, indústria automobilística, empresas de energia elétrica, de água e esgotos e de construção pesada”, aponta.
Ao analisar o elevado número de estudantes que não concluir a faculdade, Bertin assegura que a base matemática muitas vezes ineficaz transmitida pelo ensino fundamental e médio acaba prejudicando o desempenho em um curso da área das Ciências Exatas. No entanto, o professor considera a Engenharia, em suas várias modalidades, uma profissão de futuro e para o futuro. “Sempre haverá mercado para bons profissionais num País que precisa crescer como o Brasil. Temos uma carência profunda de infraestrutura em comparação com outros países, há muito ainda por fazer e o caminho é a Engenharia”, vislumbra.
Futuro das engenharias
Publicado em 2023, exatos dez anos após a publicação da matéria sobre o assunto da Revista Crea-PR, foi lançado durante a 78ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (SOEA), pela Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea –a publicação “O Futuro das Engenharias no Brasil”, uma pesquisa sobre o perfil sociodemográfico dos profissionais registrados e uma visão ampla sobre as diferentes ocupações, vínculos de trabalho e outros aspectos.
O trabalho mostra três gerações em perspectiva e orienta um estudo das tendências socioeconômicas que impactarão as profissões no futuro, indicando oportunidades de ação para que as profissões no Brasil continuem a ter relevância no país e, em diversos casos, no exterior.
A publicação apresenta os principais desafios:
» atratividade das profissões vinculadas ao Sistema junto a jovens do Ensino Médio;
» qualidade da formação das Engenharias no Brasil;
» queda no registro de profissionais recém-formados;
» apoio ao desenvolvimento profissional e ao empreendedorismo;
» valorização dos profissionais por empresas e pela sociedade;
» (vi) modernização e maior eficácia das estratégias de fiscalização pelos Creas;
» renovação de lideranças no Sistema
Segundo a pesquisa, o desafio da baixa atratividade das profissões caminha de mãos dadas com a baixa qualidade da formação das Engenharias. Entre 2014 e 2020, houve uma redução de quase 30% no número de candidatos inscritos em processos de seleção para os cursos da área, o que significa que, nesse período, mais de 500 mil jovens perderam o interesse em atuar nestas profissões.
Entre os motivos, ausência de base nos Ensinos Fundamental e Médio, que dificulta e afasta os estudantes do sonho de cursar profissões das Engenharias, seja pela perspectiva de baixos salários ou dificuldades no exercício da profissão. “O fato é que há uma crescente desilusão com as profissões”, diz o estudo.
A pesquisa ainda aponta que, apesar de em termos absolutos o número de jovens interessados nas Engenharias ser alto, os dados vêm mostrando uma nova tendência, no sentido oposto: jovens em idade universitária estão se tornando receosos com o investimento nestas áreas, tanto em termos de tempo dedicado, quanto em termos financeiros. De fato, no Brasil, a percepção dos estudantes sobre a importância da educação em Engenharia como porta de entrada para uma profissão gratificante e para uma vida melhor tem se alterado gradativamente conforme o ensino universitário foi se tornando mais comum e, segundo os dados apresentados, com menor qualidade.
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