A engenharia e a geopolítica energética
A política de privatizações é parte de uma estratégia de interesse geopolítico que não dialoga com os interesses nacionais. É preciso estancar e reverter o processo de comprometimento do patrimônio público em benefício do interesse privado.
Nós, profissionais das engenharias, temos que dedicar especial atenção a compreender o universo da geopolítica energética e sua importância para a engenharia nacional.
Diante de um mundo em conflito, temos muito que rediscutir, repensar e aprender justamente em decorrência desse mundo sob grave ameaça, que define novas tendências mundiais em relação à mal fadada e desastrada política de privatizações do setor elétrico, que se insere no contexto da geopolítica energética.
Precisamos resgatar os propósitos e motivos estratégicos pelos quais o Governador Bento Munhoz da Rocha Neto criou a Copel em 1954, assim como avaliar o contexto energético deficitário daquela época, pelo qual a empresa foi criada, da mesma maneira que precisamos avaliar a eficácia dos resultados oferecidos pela empresa, que garantiu a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da eletrificação e industrialização do Paraná até o final do século XX, quando o Brasil adotou o modismo emanado no chamado consenso de Washington, que varreu o país de norte a sul com a privatização das empresas do setor elétrico, impactando em resultados desastrosos a maioria delas.
Se for privatizada, a Copel irá priorizar o que faz toda empresa privada, a maximização dos lucros e a remuneração dos acionistas, esquecendo-se que a empresa foi criada para oferecer energia a preços básicos.
Será que é estratégico para o tempo atual, o retorno ao período anterior ao da criação da Copel, quando as companhias que operavam o setor elétrico eram privadas com atendimento precário aos consumidores?
Na condição de autor do livro documentário intitulado A COPEL É NOSSA, no qual conto a história da maior mobilização popular do Paraná, que foi a campanha vitoriosa do povo desse Estado na defesa da Copel contra sua privatização em 2001, especialmente sob a ótica da participação dos profissionais das engenharias naquela campanha, tenho o entendimento de que hoje, 2023, o Brasil caminha na contramão do restante do planeta com a política de privatizações do setor energético.
Nas crises, a exemplo do que ocorre com a guerra da Ucrânia, cuja questão central em disputa é a geopolítica energética, se verificam as consequências desastrosas desse modelo, que motiva, por exemplo, a retomada das políticas de reestatizações nos diversos países da Europa diante do risco iminente de insuficiência no abastecimento energético.
Ao invés de privatizar a Copel, o Governo do Estado deveria implementar a desprivatização da empresa, para que ela volte a ter como missão, a prestação de um serviço de interesse público de valor estratégico para o desenvolvimento social e econômico do Estado.
(Os artigos publicados são de responsabilidade de seus autores não refletindo necessariamente a opinião do Crea-PR)
(*) Professor de Engenharia Elétrica do Campus Paranavaí do IFPR, Engenheiro eletricista, Doutor em Eng. Química, Diretor do Sindicato dos Engenheiros (SENGE/PR).
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2 comentários em “A engenharia e a geopolítica energética”
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Gostei do artigo. Faz todo o sentido, pensar na energia eléctrica estatizada, para bem do Povo, neste caso do Paraná. Se não fosse um negócio rentável, os privados não iam querer.
Esses ****, querem destruir o património do Paraná. Sou contra essa privatização, não faz sentido nenhum. Só visa o enriquecimento de quem não precisa, em detrimento do Povo.
Força nessa luta.
Armindo Correia
Olá, Armindo. Tudo bem?
Que bom que gostou do artigo. Continue nos acompanhando!
Infelizmente tivemos que censurar seu comentário pelo conteúdo de baixo calão.