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A engenharia e a geopolítica energética

Publicado em 2 de março de 2023

A política de privatizações é parte de uma estratégia de interesse geopolítico que não dialoga com os interesses nacionais. É preciso estancar e reverter o processo de comprometimento do patrimônio público em benefício do interesse privado.

Nós, profissionais das engenharias, temos que dedicar especial atenção a compreender o universo da geopolítica energética e sua importância para a engenharia nacional.

Diante de um mundo em conflito, temos muito que rediscutir, repensar e aprender justamente em decorrência desse mundo sob grave ameaça, que define novas tendências mundiais em relação à mal fadada e desastrada política de privatizações do setor elétrico, que se insere no contexto da geopolítica energética.

Precisamos resgatar os propósitos e motivos estratégicos pelos quais o Governador Bento Munhoz da Rocha Neto criou a Copel em 1954, assim como avaliar o contexto energético deficitário daquela época, pelo qual a empresa foi criada, da mesma maneira que precisamos avaliar a eficácia dos resultados oferecidos pela empresa, que garantiu a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da eletrificação e industrialização do Paraná até o final do século XX, quando o Brasil adotou o modismo emanado no chamado consenso de Washington, que varreu o país de norte a sul com a privatização das empresas do setor elétrico, impactando em resultados desastrosos a maioria delas.

Se for privatizada, a Copel irá priorizar o que faz toda empresa privada, a maximização dos lucros e a remuneração dos acionistas, esquecendo-se que a empresa foi criada para oferecer energia a preços básicos.

Será que é estratégico para o tempo atual, o retorno ao período anterior ao da criação da Copel, quando as companhias que operavam o setor elétrico eram privadas com atendimento precário aos consumidores?

Na condição de autor do livro documentário intitulado A COPEL É NOSSA, no qual conto a história da maior mobilização popular do Paraná, que foi a campanha vitoriosa do povo desse Estado na defesa da Copel contra sua privatização em 2001, especialmente sob a ótica da participação dos profissionais das engenharias naquela campanha, tenho o entendimento de que hoje, 2023, o Brasil caminha na contramão do restante do planeta com a política de privatizações do setor energético.

Nas crises, a exemplo do que ocorre com a guerra da Ucrânia, cuja questão central em disputa é a geopolítica energética, se verificam as consequências desastrosas desse modelo, que motiva, por exemplo, a retomada das políticas de reestatizações nos diversos países da Europa diante do risco iminente de insuficiência no abastecimento energético.

Ao invés de privatizar a Copel, o Governo do Estado deveria implementar a desprivatização da empresa, para que ela volte a ter como missão, a prestação de um serviço de interesse público de valor estratégico para o desenvolvimento social e econômico do Estado.

(Os artigos publicados são de responsabilidade de seus autores não refletindo necessariamente a opinião do Crea-PR)

(*) Professor de Engenharia Elétrica do Campus Paranavaí do IFPR, Engenheiro eletricista, Doutor em Eng. Química, Diretor do Sindicato dos Engenheiros (SENGE/PR).

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2 comentários em “A engenharia e a geopolítica energética

  1. Armindo Correia disse:

    Gostei do artigo. Faz todo o sentido, pensar na energia eléctrica estatizada, para bem do Povo, neste caso do Paraná. Se não fosse um negócio rentável, os privados não iam querer.
    Esses ****, querem destruir o património do Paraná. Sou contra essa privatização, não faz sentido nenhum. Só visa o enriquecimento de quem não precisa, em detrimento do Povo.
    Força nessa luta.
    Armindo Correia

    1. Crea-PR disse:

      Olá, Armindo. Tudo bem?
      Que bom que gostou do artigo. Continue nos acompanhando!
      Infelizmente tivemos que censurar seu comentário pelo conteúdo de baixo calão.

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