Mercado de Trabalho em 2022

Perspectivas para profissionais das engenharias, agronomia e geociências são positivas

Os últimos dois anos afetaram de forma generalizada os profissionais das mais diversas áreas de atuação. A pandemia impactou muitos setores que tiveram de reduzir pessoal, parar ou frear projetos em andamento e fazer adaptações. A economia recuou. A boa notícia é que este período está sendo superado e existem sinais de um início de recupe- ração em 2022.

Historicamente, a construção civil e o agronegócio são indicativos importantes de de- sempenho econômico na área de Engenharia, Agronomia e Geociências. O agronegócio representa 28% do Produto Interno Bruto nacional e a construção civil responde por 7%. E os dois setores cresceram em 2021, apesar dos desafios.

Conforme divulgado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, teve um crescimento no terceiro tri- mestre de 2021, de 0,4%, mas o acumulado de janeiro a setembro de 2020 chega a 10,79%. A construção civil também apresentou um resultado positivo em 2021, de 7,6% de janei- ro a outubro, um resultado que não se via desde 2016 (leia mais na matéria da página 14). Embora ambos os setores projetem crescimento mais tímido em 2022, existe uma expec- tativa de estabilização. Em geração de empregos, o agronegócio foi responsável por 195 mil vagas entre janeiro e setembro de 2020 e a construção civil, por 285,5 mil.

índices econômicos

DADOS QUE MOSTRAM RUMOS DA ECONOMIA EM 2022

Segundo o Boletim Focus, que apresenta dados do mercado e é divulgado pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ter 0,5% de crescimento em 2022. Já para 2023, o mercado financeiro prevê crescimento do PIB de 1,85% e 2% para 2024. Estes dados são do boletim publicado em 20 de dezembro de 2021. O maior desafio segue sendo a inflação que termina o ano de 2021 em dois dígitos: 10,04%, no acumulado de 12 meses, a mais alta desde novembro de 2003. Para 2022, a previsão é de 5,03%. Já para 2023 e 2024, as previsões são de 3,4% e 3%, respectivamente. O cálculo é feito com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em matéria divulgada pela Agência Brasil, o câmbio também segue em alta. O mercado prevê que o dólar deve fechar 2021 valendo R$ 5,60; 2022 valendo R$ 5,57; 2023 valendo R$ 5,40, e 2024 por R$ 5,30. Em 2022, a taxa básica de juros – a Selic – deve chegar a 11,50%. Em 2023 e 2024, a expectativa é que ela seja menor, fechando os anos em 8% e 7%, respectivamente. Para elaboração do Boletim Focus, mais de 100 instituições do mercado financeiro são consultadas pelo Banco Central.

SETORES EM ALTA

Segundo o CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em 2022, a previsão é de uma safra recorde de grãos estimada em 289 milhões de toneladas, 14% a mais do que no ano passado. O motivo principal é o clima, que deve beneficiar plantio e colheita. A construção civil prevê um resultado mais modesto do que os 7,6% de crescimento (janeiro a outubro 2021), desempenho que não se via desde 2016 (leia mais na matéria da página 14). Para 2022, a previsão é de crescimento de
2%. Ambos os setores, porém, enfrentaram o desafio de alta nos insumos. No segmento agrícola houve aumento importante dos preços, principalmente de fertilizantes e máquinas agrícolas. Na construção civil, o INCC (Índice Nacional de Custos da Construção) ficou em 14,95% (janeiro a outubro de 2021). Os setores também são impactados pela alta taxa de juros que, no ano passado ficou em 9,25% e previsão de chegar a 11,50% ao final deste ano. Lembrando que o aumento na taxa de juros é um dos esforços feitos pelo Banco Central para controle da inflação.

SETOR PÚBLICO

“No momento que estamos vivendo, com os reflexos da pandemia, há uma dificuldade natural dos prefeitos e do governo do estado em ampliar seus quadros”, avalia o assessor de Gestão de Políticas Públicas do Crea-PR, engenheiro civil Samir Jorge.

Realmente, a Lei Complementar 173/20 (LC 173/20), sancionada em maio daquele ano, trazia vários impeditivos de contratação visando o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus, mas o prazo acabou em dezembro de 2021 e este ano pode haver uma ampliação de ofertas.

Um indicativo é o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) 2022, que estabelece as diretrizes para os gastos e projeções de receitas da União para 2022. O texto aprovado pelo Congresso Nacional prevê 33.208 vagas para concursos públicos em âmbito federal.

Concurso público foi a forma que o engenheiro civil André Rafael Pereira Paixão encontrou para ingressar no mercado de trabalho, depois de um breve período em um escritório de projeto e fabricação de estruturas metálicas. “Em 2015 passávamos por uma época de difícil inserção no mercado da Engenharia e o concurso público me pareceu um bom caminho para conseguir um emprego”, desde então ele trabalha na Copel.

Iniciou como analista imobiliário, atuando em engenharia de avaliação de imóveis. Após um ano, se tornou supervisor do Setor de Aquisição de Imóveis e Engenharia de Avaliação, e agora é gerente da Divisão de Gestão Imobiliária da Distribuição. “Sempre me senti muito valorizado pela empresa e por meus superiores, sinto ainda que há grande preocupação em proporcionar um bom ambiente de trabalho e imbuir as equipes de orgulho por trabalhar na Copel”, avalia.

E ele evidencia a importância dos profissionais de Engenharia, Agronomia e Geociências nos quadros públicos. “São estes profissionais que garantem a conformidade de obras, produtos e serviços com o que a administração pública e a população esperam dos mesmos, assegurando tanto a qualidade técnica e segurança, de acordo com normas brasileiras e os melhores fundamentos técnicos; quanto um valor justo, visto que os custos destas obras e serviços são pagos pelos contribuintes”, diz o engenheiro.

PROFISSIONAIS LIBERAIS

“Na área em que atuo, inspeções de segurança, a pandemia não interferiu muito. No meu caso, meus clientes não pararam e as inspeções programadas continuaram a acontecer. Na parte de treinamento houve sim uma diminuição, pois o tipo de treinamento que ministro, por norma, deve ser feito presencial, e alguns clientes preferiram adiar essas atividades”, explica o engenheiro mecânico Marcos Antonio Pintor Junior, proprietário da Análise Engenharia de Segurança Mecânica.

Para ele, a vantagem de o profissional optar por trabalhar de forma independente é que ele pode fazer seu próprio horário de trabalho. Mas, tanto Junior, que é também inspetor-chefe da Inspetoria de Paranavaí, Regional Maringá do Crea-PR, como a engenheira civil Sandra Mara Nepomuceno Cardoso, diretora-adjunta do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge), ressaltam que esse ponto é uma vantagem e desvantagem, porque geralmente o profissional liberal trabalha mais horas que um funcionário de empresa pública ou privada.

Sandra compartilha uma dica para quem quer trabalhar de forma autônoma, que é aumentar o leque de atuação fazendo especializações complementares, “assim como eu fiz com a pós-graduação em Gestão Ambiental”, exemplifica.

Já entre os desafios citados pelos profissionais está a geração de recursos financeiros, que envolve outras tarefas, como conquistar clientes, cobrança pelo pagamento do serviço prestado e a divulgação do trabalho.

ENGENHARIA EM DESTAQUE

INDÚSTRIAS QUE DEVEM LIDERAR CONTRATAÇÃO DE ENGENHEIROS

O Guia Salarial 2022, da Robert Half, foi tema de matéria na revista Época Negócios e apresenta alguns dados interessantes de indústrias que devem liderar a contratação de engenheiros: saúde, bens de consumo, Tecnologia/Logística, Infraestrutura e Mineração. Na pesquisa também são evidenciadas duas tendências no mercado de trabalho: estabilidade de salários por conta da insegurança econômica e a preferência por adotar um modelo híbrido de atuação.