×

Portos do Paraná: investimentos estratégicos

Publicado em 7 de maio de 2024

A maior obra portuária do Brasil, recorde de movimentação e de perspectivas futuras têm a Engenharia como protagonista

A Portos do Paraná (APPA) está realizando a maior obra portuária pública do Brasil, com o andamento do projeto do Moegão. A empresa está investindo R$ 592 milhões no empreendimento que vai permitir o descarregamento simultâneo de 180 vagões, aumentando em 63% essa capacidade ferroviária, passando dos atuais 550, para 900 vagões ao dia.

“A nova moega ferroviária será destinada para a descarga de vagões que chegam ao porto com granéis sólidos vegetais como soja, milho e farelo. Hoje é a principal obra do porto e resultará em uma remodelação de toda a recepção ferroviária dos terminais do cais leste da Portos do Paraná. Atualmente, a locomotiva alimenta de maneira individual cada um dos terminais e com a obra isso será realizado de maneira centralizada e distribuído através de correias transportadoras aéreas para os terminais. É, sem dúvidas, uma grande obra de engenharia”, explica o Engenheiro Mecânico Victor Yugo Kengo, Diretor de Engenharia e Manutenção da Portos do Paraná.

Segundo o diretor, a obra deixará o processo de descarga mais ágil e haverá ganho de produtividade, já que a capacidade de recebimento ferroviário passará de sete para 24 milhões de toneladas por ano. “Além de reduzir o conflito do tráfego na região, tendo em vista a redução das 16 passagens de níveis existentes para apenas cinco, bem como a redução do número de caminhões em trânsito na cidade, já que hoje 80% da carga chega pelo modal rodoviário e 20% pelo ferroviário. Após a conclusão da nova estrutura, e considerando a demanda de carga adicional projetada para os próximos anos, a expectativa é equalizar a balança, chegando a 50% do transporte por meio rodoviário e os demais 50% por meio ferroviário. Com isso, também já estamos nos preparando para receber a demanda da Nova Ferroeste”, afirma.

No lançamento da obra, em 2023, o governador Ratinho Junior explicou que “o trem vai chegar com a composição inteira para descarregamento sem necessidade de desmembramento, o que vai aumentar a velocidade de descarga, melhorar ainda mais a eficiência do Porto de Paranaguá e colaborar com a mobilidade do trânsito, reduzindo os trechos de conflito entre ferrovias e rodovias”, explicou Ratinho Junior. Além disso, estima-se uma economia de 30% nos custos de transporte e diminuição de 73% no CO2 emitido. A obra foi iniciada em janeiro deste ano e deve estar concluída no segundo semestre de 2025.

Essa grande e complexa obra soma-se a outros investimentos de melhoria da estrutura física e logística, como a concessão do canal de acesso aquaviário ao Porto de Paranaguá, um projeto inédito no País e que abrangerá a ampliação, manutenção e exploração do canal de acesso aquaviário pelo prazo de 25 anos. 

Entre as principais melhorias previstas para o Canal de Acesso, estão dragagem de aprofundamento, alargamento do canal, a ampliação da bacia de evolução e da área de fundeio n.º 6, além de obras de derrocagem. Com isso, a previsão é aumentar o calado do porto até 15,50m tão logo sejam realizadas essas obras e das dragagens de aprofundamento.

No total, a Portos do Paraná prevê investimentos de R$ 910 milhões em melhorias de infraestrutura nos próximos cinco anos, com geração de um grande número de empregos diretos e indiretos.

O presidente do Crea-PR, Engenheiro Agrônomo Clodomir Ascari, ressalta a importância de obras contínuas. “É um modal muito importante para o Brasil e para o Paraná, maior exportador de grãos. É estratégica a modernização que vem acontecendo, mas precisamos melhorar principalmente na questão dos fluxos de acesso. O Porto precisa estar cada vez mais preparado para atender as demandas recordes de safra do Paraná e também de estados e países vizinhos”, afirma. 

Importância 

As intervenções citadas já denotam a importância dos Portos de Paranaguá e Antonina para a economia do Paraná. O Porto de Paranaguá completou, em março deste ano, 89 anos e teve, em 2023, recorde histórico de movimentação anual, de 65 milhões de toneladas.

Números que o colocam em destaque nacional com a movimentação de cargas do complexo soja (farelo, grãos e óleo). De acordo com o sistema para consultas de dados do comércio exterior brasileiro (Comex Stat), 37,5% da exportação brasileira de soja saiu pelo Porto de Paranaguá. Em segundo lugar está o Porto de Santos, com 20,9% do total.

A meta de crescimento para 2024 é ambiciosa, de 2 a 3% do total movimentado em 2023. E os números vêm contribuindo, já que no primeiro bimestre de 2024 houve um crescimento de 19% na movimentação geral. Foram 10,4 milhões de toneladas este ano contra 8,7 milhões de toneladas em 2023. 

Os dados mais atuais, até o fechamento desta matéria, são os de fevereiro, quando um novo recorde de movimentação foi registrado. Circularam nos portos de Antonina e Paranaguá 5.350.437 toneladas, melhor número da história para o segundo mês do ano. O registro supera fevereiro de 2022 (5.075.118 toneladas) em 5%.

A matéria ainda destaca a exportação (3.146.193 toneladas), com as cargas de soja e açúcar, que tiveram a maior movimentação no mês. O grão de soja apresentou um crescimento de 172% em comparação a 2023, passando de 453.595 toneladas para 1.235.113 toneladas. Já o açúcar foi de 222.452 toneladas em fevereiro de 2023 para 496.978 toneladas este ano, representando um aumento de 123%. Outros destaques foram derivados de petróleo e trigo.

No sentido de importação (2.204.244 toneladas), os fertilizantes tiveram o maior volume movimentado, também com crescimento entre os dois meses: de 803.594 toneladas em 2023 para 924.712 este ano, representando aumento de 15%. A Portos do Paraná é a principal porta de entrada do insumo no País, representando 31,6% da movimentação nacional. Também houve expansão na compra de óleos vegetais (de 34.783 toneladas para 50.191 toneladas), sal (de 16.188 toneladas para 19.562 toneladas) e trigo (de 58.306 toneladas para 74.896 toneladas).

Pura engenharia

“O porto sem as obras de Engenharia não existiria”. A frase do diretor Victor Yugo Kengo demonstra como a Engenharia é vital em todos os processos ligados às operações dos portos. Na APPA, de 495 funcionários, incluindo estagiários, 23 são Engenheiros. “A maioria lotada na Diretoria de Engenharia e Manutenção, sob minha gestão, sendo dez Engenheiros Civis, sete Engenheiros Mecânicos e três Engenheiros Eletricistas.”, informa o diretor. 

Os contratos de trabalho da APPA são em regime CLT (carteira assinada) e o ingresso é por concurso público, sendo que também há cargos em comissão. A empresa pública estadual está com um Plano de Desligamento Incentivado (PDI), que será finalizado este ano e busca renovação no quadro funcional.

O Crea-PR tem feito visitas ao Porto. “Essa proximidade é muito importante porque tudo que está ligado ao Porto está ligado também às Engenharias. A ideia é termos encontros periódicos para colocar o Conselho e seus profissionais à disposição para auxiliar com orientações, contribuições e sugestões e para acompanhar as demandas dos profissionais ligados ao Sistema”, informa o presidente do Crea-PR.

O Conselho também participa na elaboração e atualização do Plano Estadual de Logística em Transportes do Paraná (PELT), uma iniciativa do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sicepot), Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) que desde 2009 acompanha o status das 97 obras listadas em todos os modais de transporte, incluindo o Porto. As propostas visam melhorias logísticas com previsão de conclusão até 2035. 

Curiosidade: simulações de atracação

Equipes de Engenharia e de Operações da Appa participam de simulação de manobras na USP

A operação portuária é complexa e é preciso estudo e conhecimento. Na entrevista para esta matéria o Engenheiro Mecânico Victor Yugo Kengo, Diretor de Engenharia e Manutenção da Portos do Paraná, brincou dizendo que trabalham Engenheiros de diversas formações nos Portos, mas todos acabam virando “Engenheiros portuários” referindo-se à multidisciplinaridade e particularidades do trabalho. Uma curiosidade foi que uma equipe participou, em janeiro deste ano, de simulação de manobras no Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP). Por meio de cálculos matemáticos, o simulador utiliza-se de informações da Baía de Paranaguá – como marés, correntezas e rajadas de vento – para simular, em tempo real, as manobras das embarcações. Tudo é exibido em uma tela de 12 metros, com 32 projetores, visão 360° e cabine de comando (passadiço) semelhante a um navio real.

Kengo explicou que, durante os estudos, foram avaliados os parâmetros de segurança adequados para realização de manobras assistidas por rebocadores, em situações normais e de perigo. “Dois rebocadores tripulados por comandantes foram empregados com o propósito de assegurar um nível elevado de realismo nas simulações. A precisão da simulação desempenha um papel crucial na garantia da conformidade com os critérios estabelecidos, bem como na atualização das normas operacionais, a fim de assegurar que as manobras de navios sejam conduzidas de maneira segura e eficiente”.

Laboratório

O Laboratório de Tanques Numéricos conta com três simuladores de missão completa, três estações de rebocadores e um simulador de guindaste para pesquisas e estudos técnicos. Os simuladores podem ser adaptados para representar diferentes tipos de embarcações, operando de forma individual ou combinada.

O TPN-USP desenvolve o próprio modelo matemático, baseado em uma longa experiência em hidrodinâmica de navios, e segue os procedimentos para calibração e validação de modelos de manobra.

A cooperação técnica com o Conselho Nacional de Praticagem e a Marinha do Brasil garante que o conhecimento científico seja combinado com a experiência prática em favor da segurança e da otimização dos projetos náuticos.

Porto Ponta do Félix

Empresa privada administra um porto de uso misto em Antonina

Além dos portos públicos sob administração da Portos do Paraná (APPA), o Estado ainda conta com o Porto Ponta do Félix, administrado por empresa privada e que fica em Antonina. 

O complexo portuário, segundo informa o site da empresa, foi construído mediante o arrendamento de áreas da APPA. A concessão e os licenciamentos autorizam a movimentação e armazenagem de produtos na forma de carga geral solta, unitizada em container, granel sólido, líquidos, veículos em regime de entreposto na modalidade de exportação, importação, inclusive DAC (Depósito Alfandegado Certificado) e cabotagem.

Em 2023, conquistou o Certificado de Operador Econômico Autorizado (OEA), emitido pela Receita Federal, e passará a integrar o Programa Aduana Brasileira. A certificação é um reconhecimento às empresas que demonstram capacidade de gerir riscos relacionados à segurança física das cargas e à conformidade tributária aduaneira.  

Entre as vantagens da certificação, está a diversificação nas operações. O terminal é multipropósito, com capacidade para movimentar e armazenar diferentes tipos de cargas, como fertilizantes, açúcar ensacado, sal, malte, trigo, pallet de madeira e alimentos. Nos dois berços de Antonina, onde opera a empresa arrendatária, podem atracar navios de 200 metros de comprimento (LOA) e 34 metros de largura (boca).

Deixe seu comentário

3 comentários em “Portos do Paraná: investimentos estratégicos

  1. Belloti disse:

    Excelente matéria sobre a sobre a maior obra portuária do Brasil. O que nos deixa orgulhoso da engenharia nacional. Parabéns a equipe.

  2. Luzia Becker Gaspari disse:

    Boa tarde !
    Faltou uma matéria , citando o Porto de Antonina/ Portos Ponta do Felix.

    1. Crea-PR disse:

      Olá, Luzia!
      Agradecemos pela contribuição! Já repassamos à equipe responsável para verificar a informação e avaliar a possibilidade de uma pauta complementar.

Deixe aqui seu e-mail para receber as novidades