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ESG é oportunidade de ouro para o agronegócio brasileiro

Publicado em 24 de outubro de 2023

Engenheiro Agrônomo com vasta experiência mostra como o desenvolvimento sustentável
pode ser vantajoso

Adriel Ferreira da Fonseca

O ESG significa Environmental, Social and Governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. Segundo site do Pacto Global, o termo foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Na mesma época, a UNEP-FI lançou o relatório Freshfield, que mostrava a importância da integração de fatores ESG para avaliação financeira. Já em 2006, do PRI (Princípios do Investimento Responsável), que hoje possui mais de 3 mil signatários, com ativos sob gestão que ultrapassam USD 100 trilhões – em 2019, o PRI cresceu em torno de 20%.

O site ainda explica que o entendimento e a aplicabilidade de critérios ESG pelas empresas brasileiras é, cada vez mais, uma realidade. Atuar de acordo com padrões ESG amplia a competitividade do setor empresarial, seja no mercado interno ou no exterior. No mundo atual, no qual as empresas são acompanhadas de perto pelos seus diversos stakeholders, ESG é a indicação de solidez, custos mais baixos, melhor reputação e maior resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades.

Nosso entrevistado conta, a seguir, como o ESG irá transformar o agronegócio brasileiro e como as empresas que aderirem primeiro ao modelo terão destaque no mercado nacional e mundial. Ele é Adriel Ferreira da Fonseca, Engenheiro Agrônomo, que tem pós-doutorado na área. Com vasta experiência, atua principalmente nos seguintes temas: fontes e estratégias de fertilização para sistemas de produção, biodisponibilidade e ciclagem de nutrientes, reciclagem de resíduos e qualidade de solo. Também é editor associado da Revista Ciência Agronômica e Brazilian Archives of Biology and Technology, professor associado do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola (Desolo/UEPG), coordenador do Laboratório de Nutrição de Plantas da UEPG, diretor técnico da Associação dos Engenheiros Agrônomos dos Campos Gerais (AEACG), bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, e conselheiro regional titular do Crea-PR. Confira!

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O agronegócio no Brasil vai de vento em popa. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estima um crescimento de 20% na produção agrícola até 2030. Neste contexto, qual a importância de se inserir os conceitos do ESG no setor?

O agronegócio brasileiro é especialista na produção de commodities, cujos preços estão muito voláteis. Para a maioria dos produtos, tais como, soja, milho, trigo, madeira, carne etc. além da volatilidade, os preços não estão atrativos nos últimos nove meses.

Para a obtenção de preços diferenciados junto ao mercado externo, particularmente na Europa, é crucial apresentar algo distinto e atrativo. O emprego de boas práticas de produção e de gestão, bem como ESG, representa um diferencial e poderá refletir em maiores lucros às empresas do Setor Agro. Trata-se de ótima oportunidade para o setor.

De tempos em tempos há divulgação de denúncias sobre exploração de mão de obra. Como utilizar o ESG pode auxiliar para combater esse tipo de ação?

O Setor Agro é muito vasto e com enormes peculiaridades. Temos situações de sistemas de produção de grãos com emprego de altíssima tecnologia. Nesse caso, há máquinas e implementos autônomos e/ou ou operados por colaboradores de alto nível de treinamento e com bons salários, além de participação no lucro da empresa.

Por outro lado, há relatos de situações com menores níveis tecnológicos e que são baseadas em mão-de-obra rudimentar. Nesses casos, os salários são baixos, ocupados por trabalhadores com baixo nível de instrução, humildes e plausíveis de serem explorados. Saliento que isso é algo isolado e não representa a maioria absoluta dos integrantes do Setor Agro. São situações peculiares que devem ser investigadas e, se comprovadas irregularidades, punidas de acordo com a legislação brasileira.

Penso que empresas que praticam exploração de mão-de-obra não vislumbram emprego de ESG. São, na verdade, empresas “míopes”, pautadas em estratégias antiquadas de gestão e, provavelmente, desaparecerão nos próximos anos. O mercado não tolera mais esses tipos de práticas discordantes da legislação.

Ainda há uma noção de que ESG é só para grandes empresas e grupos. Qual sua opinião a respeito e como pequenos e médios negócios podem se beneficiar? E as cooperativas?

ESG pode ser aplicado às empresas pequenas, médias e grandes. Por exemplo, um produtor de flores – tradicionalmente em pequenas ou médias propriedades, pode empregar ESG e agregar isso à sua mercadoria.

As cooperativas, podem e devem empregar ESG. No Estado do Paraná, as cooperativas estão focadas na produção de commodities e transformação destas em produtos. Portanto, a agregação de práticas de ESG, na verdade, contribui significativamente para acessar mercados consumidores mais exigentes e aumentar a lucratividade. Isso contribui para a sustentabilidade da cooperativa e, principalmente, para maior lucratividade do cooperado – produtor rural.

As empresas ou cooperativas que adotarem as práticas de ESG vão se diferenciar no mercado? Isso pode trazer novos mercados e valorização de seus produtos e/ou serviços?

Com certeza. Esse é o objetivo prático de ESG. Não existe sustentabilidade isolada de maior retorno financeiro. 

De forma prática, como iniciar um processo de implementação das práticas de ESG?

Entendo que, de forma prática, o processo de implementação das práticas de ESG deve ser iniciado na educação do corpo técnico das empresas. Penso que é essencial formar e capacitar engenheiros agrônomos e demais profissionais atuantes no Setor Agro. Nesse contexto, as universidades deixam à desejar. Na atualidade, pouco se fala sobre ESG no Setor Agro durante a formação do Engenheiro Agrônomo, por exemplo.

Se o profissional da Assistência Técnica e Extensão Rural for capacitado em práticas de ESG, provavelmente, poderá orientar os produtores rurais para empregar tais práticas.

O segundo passo consiste no emprego de práticas de ESG pelas empresas que atuam no fornecimento de insumos e recebimento da produção, transporte de insumos e produtos, e fornecimento de máquinas e implementos agropecuários. Nesse caso, por se tratar majoritariamente de empresas de grande porte e preocupadas com a reputação, entendo que é mais simples e rápido o emprego de ESG.

Finalmente, trabalhar com o público consumidor. Nesse contexto, o mercado europeu naturalmente valoriza ESG. No entanto, até que ponto o mercado nacional estaria disposto a pagar mais por um produto do Setor Agro produzido com boas práticas, inclusive, ESG? Penso que, nesse último caso, há muito a ser feito. Inicialmente, pela educação dos consumidores.

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Todos os envolvidos ganham na adoção de uma governança baseada em ESG, inclusive o meio ambiente. Confere?

Exatamente. ESG é pautado no desenvolvimento sustentável.

Qual o papel dos profissionais das áreas tecnológicas, especialmente dos Engenheiros Agrônomos, nesta questão?

Os Engenheiros Agrônomos, devidamente capacitados, poderão atuar como difusor de práticas de ESG. Com o Setor Agro fortalecido e mais lucrativo, os engenheiros agrônomos são os profissionais majoritariamente favorecidos e valorizados.

O que o Sistema Profissional Confea/Creas pode fazer para auxiliar e disseminar informações a este respeito?

O Sistema Confea/Creas poderá atuar no sentido de capacitar profissionais para o emprego de práticas de ESG. Também, poderá fomentar projetos e eventos, além de apoiar as instituições de ensino, no sentido de capacitar seus alunos quanto às práticas de ESG. 

Como a adoção dos conceitos ESG auxilia na rentabilidade e a superar a volatilidade de preços?

Inovações tecnológicas que visam estabelecer práticas de ESG no Setor Agro são oportunidades para novos negócios. Considerando o atual momento de volatilidade de preços das principais commodities agrícolas, todo e qualquer diferencial na produção e produto final é algo inovador para garantir a sustentabilidade financeira no negócio. Entendo que ESG é excelente oportunidade para o Setor Agro. Todavia, o profissional responsável deverá estar devidamente capacitado para aproveitar essa oportunidade. Nesse contexto, o Sistema Profissional Confea/Creas poderá fazer a diferença para esse profissional.

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1 comentário em “ESG é oportunidade de ouro para o agronegócio brasileiro

  1. Manoel Rosa disse:

    As solícitas e discretas abelhas formavam sua república no recôncavo das árvores, oferecendo a qualquer mão – sem interesse algum – a fértil colheita do seu dulcíssimo trabalho. Tudo era paz, amizade, concórdia; ainda não se atrevera o pesado arado a abrir e visitar as entranhas piedosas da nossa primeira mãe, já que ela, sem ser forçada, oferecia por todas as partes do seu fértil e espaçoso seio o que pudesse fartar, sustentar e deleitar os filhos, que então a possuíam.
    Hoje, nesse mundo tecnológico, com a malícia e o engano mesclando-se com a verdade, afigura-se imperiosa a aplicação de técnicas de desenvolvimento sustentável. Posto que o meio ambiente seja generoso, gentil, cordial, amigável – ao ser tratado com respeito e bom senso – sabe-se que, ao ser ofendido, desrespeitado, depreciado, torna-se ameaçador, inclemente, impiedoso e vingativo.

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