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Mais Ciência no Campo com a BioAS

Publicado em 1 de julho de 2022

Nova análise de solos criada pela Embrapa permite terra mais saudável e agricultura mais sustentável

Desde maio os produtores rurais e consultores agrícolas do Paraná tem à disposição a Tecnologia de Bioanálise de Solo (BioAS). A análise foi lançada em 2020, incialmente para a região dos Cerrados, e é o primeiro método de avaliação da condição biológica do solo devidamente calibrado e padronizado para uso em laboratórios de prestação de serviços de análises de solo. “Trata-se de uma iniciativa pioneira no mundo”, explica a Engenheira Agrônoma Iêda de Carvalho Mendes, pesquisadora da Embrapa Cerrados e líder do projeto Bioindicadores.

A ampliação para o Paraná foi possível graças a algoritmos de interpretação para os níveis de atividade enzimática (alto, médio e baixo) específicos para os solos da região sob cultivos anuais. São analisadas duas enzimas: beta-glicosidase e arilsulfatase. Elas estão associadas, respectivamente, aos ciclos do carbono e do enxofre e funcionam como bioindicadores da saúde do solo “Estamos trabalhando para que a tecnologia alcance cada vez mais regiões do Brasil e, também, outros cultivos, como cana-de-açúcar, café e pastagens”, afirma Iêda.

Atualmente são seis laboratórios que podem realizar a análise no Brasil. Todos passaram por treinamento e foram habilitados para usar a plataforma on-line de interpretação disponibilizada on-line pela Embrapa. Ainda no primeiro semestre a expectativa é ter mais dez laboratórios habilitados. “Do lançamento até agora já foram feitas análises de 10 mil amostras e isso que passamos por um problema de falta de reagentes no mercado”, conta a Engenheira Agrônoma, mostrando a grande demanda pela novidade.

Avanço científico

Com a BioAS, “o agricultor pode conhecer como está a condição biológica do solo da sua propriedade, o que antes era restrito às características químicas e, em alguns casos, físicas”, ressalta o Engenheiro Agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira.

A análise pode ser comparada a um “exame de sangue”, para constatar, por exemplo, problemas assintomáticos. “O solo pode até ser produtivo, mas ter problemas biológicos. É uma análise que extrapola a questão do rendimento indicando a capacidade do solo armazenar água, sequestrar carbono, mitigar gases do efeito estufa, entre outros”, informa.

Futuro promissor

A líder do projeto antecipa que a BioAS pode ter seus benefícios ampliados no futuro. A análise pode, por exemplo, provar que determinado agricultor pratica o manejo conservacionista. “Pode ser inclusive uma ferramenta de prova para possíveis pagamentos de compensação ambiental ou/e incentivos para àqueles cujos solos são mais saudáveis”. Isso porque, segundo lembra Iêda, solo saudável resulta em flora e fauna saudáveis e pessoas e planeta com mais saúde. Os resultados das análises também farão parte de um grande banco de dados sobre o solo no Brasil.

BioAS na prática

A Embrapa desenvolveu a Tecnologia de Bioanálise de Solo (BioAS), um método pioneiro de avaliação da condição biológica do solo devidamente calibrado e padronizado para uso em laboratórios de prestação de serviços de análises de solo. E que já está disponível no Paraná.

E o resultado dessa análise é rápido após uma amostra ser enviada a um laboratório devidamente habilitado pela Embrapa. “O tempo se assemelha ao que leva para obter o resultado da análise química. Entre coleta, análise e interpretação, são alguns dias. Aliás, as duas análises são realizadas na mesma amostra para se ter uma interpretação mais precisa da condição do solo por meio do índice de qualidade do solo (IQS), que indicará se o mesmo está saudável, em vias de degradação, degradado ou em vias de recuperação. Essa interpretação auxilia o produtor e seu técnico na tomada de decisão sobre o manejo na propriedade visando manter o solo produtivo e saudável”, conta o Engenheiro Agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira.

A líder do projeto Bioindicadores, Engenheira Agrônoma Iêda de Carvalho Mendes, pesquisadora da Embrapa Cerrados diz que o custo é em média de R$ 160. “Não é um valor elevado, se levarmos em conta o valor estratégico dessa informação. Afinal, um solo saudável traz ao agricultor maior estabilidade produtiva e inúmeros benefícios ambientais.”

A tecnologia BioAS está disponível para o agricultor brasileiro por meio de uma rede de laboratórios habilitados pela Embrapa. Eles se conectam aos servidores da Embrapa por meio de uma plataforma web denominada Módulo de Interpretação da Qualidade do Solo da Tecnologia BioAS, que envolve inclusive o cálculo de Índices de Qualidade de Solo (IQS).

Os IQS são calculados com base nas propriedades químicas e biológicas em conjunto (IQSFERTIBIO) e separadamente (IQSBIOLÓGICO e IQSQUÍMICO). Os parâmetros de referência e tabelas de indicadores envolvidos na tecnologia BioAS são atualizados sistematicamente, com base na rede de experimentos da Embrapa de calibração e desenvolvimento dessa tecnologia. Com isso, os clientes dos laboratórios sempre terão laudos contendo resultados com interpretação atualizada pela Embrapa, safra a safra.

RECUPERAÇÃO DO SOLO

Mesmo que a análise mostre que o solo não está saudável, existem formas de remediar a situação. “Não é nenhum segredo. Os agricultores já conhecem bem as estratégias de melhorar o solo quimicamente por meio da adubação e calagem com base na interpretação da análise química. Solos sob diferentes históricos de manejo podem ser quimicamente iguais, mas biologicamente distintos”, explica o Engenheiro Agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira. 

Segundo ele, se o solo é biologicamente mais ativo, o sistema de produção se torna mais resiliente, ou seja, resistente às condições adversas. A diversificação de culturas e o aporte de resíduos orgânicos ao solo, principalmente por meio de plantas e suas raízes, melhora a qualidade do ponto de vista físico, químico e biológico. 

“Por exemplo, o uso do plantio direto, com a diversificação com gramíneas tropicais, como as braquiárias solteiras ou em consórcio, melhora a qualidade tornando o solo mais permeável, biologicamente mais ativo e aumenta seus estoques de carbono. Isso reflete positivamente nos resultados da BioAS. Por outro lado, a falta de cobertura, baixo aporte de resíduos orgânicos, pouca diversificação de culturas, revolvimento com arações e gradagens prejudicam a qualidade do solo e isso reflete negativamente nos resultados da BioAS. É desta forma que a interpretação dos resultados auxilia no direcionamento do melhor manejo”, conclui.

Isso também vai facilitar o trabalho do Engenheiro Agrônomo. “Antes não tinha como provar ao agricultor que este ou aquele manejo estava prejudicando o solo. Agora sim, com os resultados e dados robustos em mãos fica mais fácil convencer o agricultor a fazer mudanças no manejo”, detalha a Engenheira Agrônoma Iêda de Carvalho Mendes.

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