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Mulheres na Engenharia

Publicado em 1 de julho de 2022

Dia internacional lembra da importância de condições igualitárias e do papel feminino fundamental na contribuição para uma sociedade mais justa

O Dia Internacional das Mulheres na Engenharia é comemorado em 23 de junho. A data, criada pela Women’s Engineering Society (WES), do Reino Unido, celebra seu nono ano em 2022 com o objetivo de dar às mulheres das engenharias em todo o mundo visibilidade e incentivar mais jovens mulheres e meninas a seguir carreiras de engenharia.

Como forma de reconhecer o trabalho das mulheres, foi lançado este ano o Prêmio Crea-PR Engenheira Enedina Alves Marques, organizado pelo Comitê Mulheres do Crea-PR, com apoio da Mútua-PR e Cooperativa de Crédito Credcrea, com a indicação de uma profissional de cada Regional do Conselho (oito no total) para receber a homenagem. Os nomes escolhidos são resultado de sugestões vindas das Entidades de Classe e Instituições de Ensino. 

O Prêmio demonstra a valorização do papel das mulheres nas Engenharias, Agronomia e Geociências (veja no site a história e depoimento das vencedoras, saiba mais sobre a engenheira Enedina e acesse as fotos da entrega do Prêmio). As indicadas são: Eng. Agr. Ana Maria de Moraes (Apucarana); Eng. Civ. Célia Neto Pereira Rosa (Cascavel); Eng. Cartóg. Taciana Achcar Malheiros Vannucci (Curitiba); Eng. Agr. Sandra Mara Vieira Fontoura (Guarapuava); Eng. Civ. Célia Oliveira Souza Catussi (Londrina); Eng. Civ. Donária Regina Nogueira Rizzo (Maringá); Eng. Civ. e de Seg. do Trab. Loreni Fenalti da Costa (Pato Branco) e Eng. Agr. Maristela Dalla Pria (Ponta Grossa). 

“É uma data para apoiar as mulheres e dar oportunidade para que possam atingir todo o seu potencial como profissionais livres. A engenharia ajuda a desenvolver o mundo que se torna melhor, mais seguro, mais inovador e emocionante a partir das atividades de engenharia e a visão feminina é fundamental neste processo”, avalia o presidente do Crea-PR, Engenheiro Civil Ricardo Rocha.

Dados embasam a importância do assunto. A Organização das Nações Unidas (ONU), divulga que as mulheres representam apenas 35% dos estudantes matriculados em STEM, sigla em inglês para Ciências, Matemáticas, Engenharias e Tecnologia, nas universidades. O percentual é ainda menor nas engenharias Industrial, de Produção, Civil e em tecnologia: menos de 28% do total. 

No mundo corporativo não é diferente. Apenas 13% das empresas brasileiras têm CEOs mulheres. Elas representam 26% das pessoas em posição de diretoria, 23% em vice-presidência e 16% em cargos de conselhos. Os números são da consultoria Talenses e Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), divulgados em 2019.

“Ainda há uma predominância de homens e é necessário um conjunto de ações e políticas para aumentar a participação das mulheres e meninas que se interessem pela área de exatas. Uma das ações importantes é incentivá-las a gostar das áreas que são relacionadas às engenharias, buscar desenvolver e despertar interesse por matemática, ciências e por áreas tecnológicas. Uma outra ação é buscar referências importantes para elas terem como referência”, explica o presidente do Crea-PR.

E o momento é agora, como defende a ONU: “à medida que o mundo continua a lidar com a pandemia COVID-19 e a crise climática, a participação e liderança plena e igualitária de mulheres e meninas nas comunidades de ciência e tecnologia é mais importante do que nunca. Agora é a hora de reconhecer as contribuições das mulheres em pesquisa e inovação, destruir estereótipos e derrotar a discriminação”, afirma a organização internacional.

Papel do Crea-PR

Uma das ações desenvolvidas dentro do Sistema Profissional é o Programa Mulher. “O Paraná foi o primeiro CREA a ter um Comitê Mulheres e que hoje está consolidado em todos os CREAs. Podemos nos orgulhar deste pioneirismo e a nossa participação tem aumentado a cada ano, por meio de ações desenvolvidas pelo comitê”, conta a Engenheira Civil Karlize Posanske da Silva, Conselheira do Crea-PR e coordenadora do Comitê Mulheres.

O Programa Mulher do Sistema Confea/Crea e Mútua fomenta a elaboração de políticas atrativas para mulheres engenheiras, agrônomas e da área das geociências dentro das diversas entidades de classe e Conselhos Regionais, a fim de ampliar a participação feminina de forma protagonista no sistema profissional. 

Exemplos Inspiradores

Apesar da ainda menor participação das mulheres no universo das engenharias, agronomia e geociências, não faltam bons exemplos. É o caso das paranaenses Engenheira Agrônoma e Bióloga, Gabriela Vieira Silva, e Engenheira Agrônoma Sheila Ariana Xavier Valencio. Elas figuram na Lista da Forbes Brasil das 20 mulheres inovadoras nas agtechs.
“Reconhecimento super gratificante porque é desafiador empreender e inovar no Brasil ainda mais sendo mulher. Mas acredito que estamos em transição para um mercado de trabalho mais igualitário”, prevê Gabriela, sócia-fundadora da Agribela, empresa com foco no desenvolvimento de tecnologias para o manejo de pragas agrícolas, de Londrina.
Ela atribui figurar na lista ao fato de “acreditar no que faz. Na Agribela nós vivemos e buscamos entender os problemas da agricultura”. Neste sentido, o foco é trabalhar para “deixar um legado e realmente contribuir com a melhoria significativa do campo com novas tecnologias. Este é nosso diferencial”, argumenta.  
Sheila Valencio é sócia e diretora comercial da Startup Fitovision Agridata, empresa de base tecnológica voltada para o ramo agrícola que objetiva trazer soluções para gerenciamento de experimentos agrícolas. “Me senti muito feliz pelo reconhecimento e motivada a trabalhar com mais dedicação e empenho. Estou honrada em estar em uma lista que reúne essas mulheres tão eficientes, nas quais eu me inspiro”, avalia.
A empresa lançou seu primeiro software em 2017 e em 2020 ampliou o ramo de atuação com desenvolvimento de novos softwares e trabalhos com reconhecimento de imagens e avaliações automatizadas por drone. Atua nacional e internacionalmente.
Outras mulheres paranaenses que figuram na lista são: a Cientista da Computação Ana Carolina Ferronato, da NetWord Agro, de Palotina; a Química Industrial Carla Porto da Silva, da MS Bioscience, de Maringá (PR); a Médica Veterinária Luiza Reck Munhoz, da LebenLog, de Toledo; a Advogada Mariana Bonora, da Bart Digital, de Londrina; a mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia, Tatiana Fiuza, da Cocriagro, de Londrina.

Poder feminino
A pesquisadora da Embrapa Soja, Engenheira Agrônoma Mariangela Hungria está na primeira posição brasileira e é a única da América do Sul no recém lançado ranking dos 100 principais cientistas em Fitotecnica e Agronomia (Plant Science and Agronomy), publicado pelo Research.com, um site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial. Mariangela também já recebeu o Prêmio Destaque Profissional do Crea-PR.

Como é figurar na primeira posição brasileira e única da América do Sul do ranking?
Fiquei muito surpresa porque jamais imaginaria estar no primeiro lugar no Brasil entre os 36 brasileiros classificados neste ranking dos mil cientistas mais destacados do mundo. Fiquei alegre porque é o reconhecimento do esforço de uma vida. Mas gostaria de destacar que na área que estou classificada (fitotecnia e agronomia) tem 36 brasileiros e apenas 6 mulheres, ou seja, menos de 17%. É pouco. Agora, no ranking mundial a participação é ainda menor. Entre os brasileiros eu fui a única classificada entre os 100 top do mundo e figuram apenas seis mulheres. Ainda é preciso aumentar a participação feminina.

Quais são os principais desafios que as mulheres ainda enfrentam no Brasil para desenvolver pesquisas e inovar? 
Fazer pesquisa no Brasil é um desafio para todos. Costumo falar que no Brasil não fazemos pesquisa, fazemos milagre. Isso porque são poucos os recursos disponíveis e o processo para fazer uma pesquisa acaba sendo estressante, difícil e, às vezes, frustrante. Isso no universo feminino é ainda mais desafiador porque precisa conciliar maternidade e outras tarefas.

Em sua trajetória pessoal sofreu discriminação de alguma forma por ser mulher na área de agronomia?
Sim, a começar pelo fato de que engravidei por acidente no segundo ano da faculdade e, na época, não conseguia estágio mesmo sabendo que tinha capacidade para conciliar. Depois tive uma filha e me separei cedo. Daí era a mulher separada com dois filhos, sendo uma especial. As pessoas achavam que eu não ia dar conta. Mas eu dava. Quando tinha que levar minha filha ao médico eu trabalhava sábado, domingo e feriados para ter todos os dados em dia e me saía até melhor do que os outros. Ser mãe me deu foco e foi responsável por alavancar minha carreira.
Metodologia – O ranking considera as contribuições científicas – valores de índice h -quantifica a produtividade e o impacto de artigos científicos mais citados, publicações e citações – coletadas em 6 de dezembro de 2021. Foram analisados perfis de 166.880 cientistas do mundo em 21 nas áreas das ciências e 2.575 perfis na área de Fitotecnia e Agronomia)

O legado de Enedina Marques

Enedina Alves Marques este é o nome da primeira mulher formada em Engenharia Civil no Paraná. Após formada, em 1945, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná tornou-se a primeira Engenheira Civil negra do Brasil.

E o seu legado segue inspirando. Por isso, o Crea-PR fez uma homenagem especial às mulheres engenheiras, premiando as que se destacam por sua atuação em cada uma das oito Regionais do Conselho com o Prêmio Crea-PR Engenheira Enedina Marques. 

Em 2021 também foi lançado o livro infanto juvenil “Enedina Marques: mulher negra pioneira na engenharia brasileira”, da pós-doutorada em Estudos Interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismos e doutora em Tecnologia, Lindamir Salete Casagrande.

“Tive contato com a história de Enedina Marques na época do mestrado entre 2003 e 2005 e me encantei. Mulher forte, resiliente, pioneira, ousada, corajosa e outras tantas qualidades que me faltam palavras para descrever merece ter sua história conhecida pelo maior número de pessoas possível. Resgatar, e contar de forma leve e acessível ao público em geral, de modo especial, às crianças e adolescentes foi e é um desafio que tive a honra de aceitar e que me deixa muito feliz em vê-lo concretizado”, resume a autora.

Prêmio Crea-PR Engenheira Enedina Alves Marques

ENGENHEIRA AGRÔNOMA ANA MARIA DE MORAES
REGIONAL APUCARANA

“A indicação coroa todo um trabalho, uma vida profissional dedicada à Agronomia, sempre devotada à minha profissão nesses 33 anos. A gente faz as coisas na vida sem pensar no que vai ser depois, só pensa na qualidade do trabalho que está fazendo. Eu sempre me dediquei muito ao meu trabalho e esse reconhecimento dos meus pares, dos meus colegas, do que eu executei, é emocionante. Eu fico extremamente agradecida por eles terem me visto dessa forma. E também é muito emocionante receber essa indicação pelo fato de estar encerrando minha carreira, por ter me aposentado recentemente.”

ENGENHEIRA CIVIL CÉLIA NETO PEREIRA DA ROSA
REGIONAL CASCAVEL

“É uma validação, e com foco na representação feminina é ainda mais especial. Essa é mais uma maneira de fortalecer a atuação da mulher engenheira e, principalmente, de mostrar às alunas e colegas profissionais que é possível ir além em profissões que antes eram muito masculinas. Estou muito feliz e honrada pelo reconhecimento. Para minhas alunas e colegas da área, é uma forma de inspirar a não desistir da carreira e buscar seus espaços para que o símbolo de liderança, profissionalismo e trabalho sejam também a figura feminina. O Crea-PR nos honra e orgulha por entender o privilégio de ter as profissionais atuantes e reconhecer o trabalho e esforço delas.”

ENGENHEIRA CARTÓGRAFA TACIANA ACHCAR MALHEIROS
VANNUCCI REGIONAL CURITIBA

“Senti um misto de gratidão e privilégio ao saber da indicação. Penso que a melhor forma de lidar com a sensação de ser minoria – num ambiente predominantemente masculino – ou de ser questionada em sua capacidade é com resultados. E essa premiação é mais um passo que busca a indicação de mulheres que têm feito algo de importante pela nossa sociedade, não apenas dentro de nosso nicho de atuação. O nome da Enedina para a premiação já é um grande marco para o Crea-PR, considerando sua trajetória por trilhos que não foram a seu favor, na maioria das vezes. E sabemos que ela é inspiração para muitas de nós. Que possamos premiar muitas Enedinas.”

ENGENHEIRA CIVIL CÉLIA OLIVEIRA SOUZA CATUSSI
REGIONAL LONDRINA

“Quando recebi a notícia da indicação ao Prêmio Engenheira Enedina, me senti privilegiada ao recebê-lo. Considero que esse é um reconhecimento pelo meu trabalho como profissional da construção civil.”

ENGENHEIRA AGRÔNOMA SANDRA MARA VIEIRA FONTOURA 
REGIONAL GUARAPUAVA

“Me sinto extremamente realizada na minha profissão e amo o que faço, que é ser pesquisadora. O maior desafio de ser mulher nessa área, é se destacar em um ramo predominantemente masculino. Hoje se percebe menos essa diferença, mas quando estudei e iniciei a trabalhar, praticamente não havia mulheres na área. Sou grata por esta homenagem. Recebi a notícia do Prêmio Enedina com muita alegria, e até mesmo com surpresa, pois sei que existem muitas colegas competentes nesta área.”

ENGENHEIRA CIVIL DONÁRIA REGINA NOGUEIRA RIZZO
REGIONAL MARINGÁ

“A instituição que concede a premiação é valorosa por si só e o Prêmio Enedina é uma maneira de destacarmos as engenheiras do nosso estado, trazendo à tona tantas valorosas profissionais que serão representadas por algumas. Para mim, é importante a premiação pelo fato de amar a minha profissão e exercê-la da melhor forma possível. Entendo que muitas profissionais engenheiras o merecem e me sinto honrada em recebê-lo. O respeito com o exercício da nossa profissão deve sempre estar em primeiro lugar, atrelado à ética. E se atualizar é palavra de ordem, pois o conhecimento nunca é perdido. Então defina sua área de atuação e procure sempre ser o melhor no que faz.”

ENGENHEIRA CIVIL E DE SEGURANÇA DO TRABALHO LORENI FENALTI DA COSTA
REGIONAL PATO BRANCO

“A engenheira Enedina é uma mulher que orgulha a nossa classe, pois enfrentou todos os tipos de preconceito, em um ambiente hostil, e deixou um importante legado. Enedina é uma inspiração! Estou muito grata pela homenagem, especialmente à Area-PB (Associação Regional de Engenheiros e Arquitetos de Pato Branco), que indicou o meu nome e teve apoio das outras Entidades de Classe da região.”

ENGENHEIRA AGRÔNOMA MARISTELA DALLA PRIA
REGIONAL PONTA GROSSA

“É uma honra receber uma homenagem com o nome de Enedina Alves Marques, pela inestimável conquista desta mulher e o que ela representa para todas aquelas que sofrem com a realidade da discriminação racial e de gênero. Que o trabalho incansável e a luta diária desta mulher incrível, à frente do seu tempo, sirva de inspiração para que continuemos na luta por melhores condições de trabalho e igualdade entre mulheres e homens.”

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