Paraná precisa retomar conservação de solos
Técnicas desenvolvidas no Estado são utilizadas desde o século passado, mas têm sido levadas menos a sério nos últimos anos
“O Paraná já foi referência mundial em conservação do solo. Somos muito bons nisto. Tanto que não há nenhuma técnica absolutamente nova, que tenha sido criada ou proposta nos anos 2000. Todas as soluções e técnicas que conhecemos como eficientes são, literalmente, do século passado”, explica a Engenheira Agrônoma Nilvania Aparecida de Mello, professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Pato Branco (UTFPR-PB). Ela completa que “o problema é que com o tempo estas técnicas foram sendo simplificadas, ou mesmo abandonadas. Então, embora tenhamos sido referência em conservação do solo, pecamos em educação sobre o assunto”.
O Engenheiro Agrônomo Arnaldo Colozzi Filho, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR Paraná), concorda e avalia que mesmo dominando as técnicas, ainda falta capacitação sobre a relevância do tema. “A orientação técnica é fundamental neste mundo moderno e tecnológico e o extrato socioeconômico rural no Paraná é muito variado, o que se reflete em diferentes graus de conhecimento”.
As técnicas a que ambos se referem são as já adotadas no Estado há muitos anos como plantio direto, terraços, balanço de nutrientes e diversificação dos sistemas. “São processos que surgiram após o Paraná ter passado por um importante declínio do solo por erosão no auge do plantio do café, na década de 50 e início da 60”, lembra Colozzi Filho.

Atualmente existem dois fatores que competem para aumentar a degradação dos solos: a falta de rotação de culturas e a falta de equilíbrio no uso de fertilizantes. “A rotação de culturas é muito importante, pois é a principal estratégia para aumentar o aporte de biomassa e a diversidade do sistema, ambos fatores que são fundamentais para manter a qualidade do solo”, explica Nilvania.
E o uso de fertilizantes, sejam eles orgânicos ou químicos, precisa ser feito de forma equilibrada. “Deve-se levar em conta a análise de solo para equilíbrio dos nutrientes, pois hoje vemos áreas com fertilidade elevada, mas produtividade baixa, o que leva à redução do aporte de biomassa e, com o tempo, à redução da matéria orgânica do solo”, informa a Engenheira Agrônoma. Ela ainda cita que a falta de dimensão correta do maquinário e de estruturas de conservação são fatores que também contribuem para a degradação.
Para Colozzi a resposta está na regionalização dos cultivos porque o estado tem diferentes tipos de solo e clima. “As pesquisas têm priorizado equacionar a questão de produzir mais com mais sustentabilidade, buscando um ponto de equilíbrio. Porém, é preciso que a tecnologia certa chegue ao produtor certo porque nem toda tecnologia mais divulgada é necessariamente a melhor para aquele cultivo. Aí entra mais uma vez a importância do profissional que faz a assistência técnica”.


Efeitos colaterais do solo degradado
“Como agrônomos pensamos em primeiro lugar na redução da produtividade de um solo degradado. Mas tem uma série de outras consequências que atingem a sociedade como um todo como a poluição da água e mudanças climáticas resultantes da emissão de gases de efeito estufa, que é um dos efeitos da degradação do solo. Ou seja, para além de uma crise alimentar e nutricional, a degradação do solo pode dar origem a graves problemas socioambientais”, resume a Engenheira Agrônoma Nilvania Aparecida de Mello, representante da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS).
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 95% da produção global de alimentos dependem do solo, mas um terço dele já está degradado, e especialistas estimam que a erosão do solo pode levar a uma perda de 10% na produção agrícola até 2050.
A organização ainda aponta que a degradação dos solos no mundo já liberou até 78 gigatoneladas de carbono na atmosfera (uma gigatonelada equivale à massa de 10.000 porta-aviões americanos totalmente carregados). De acordo com o mapa de Sequestro Global de Carbono Orgânico do Solo (Global Soil Organic Carbon Sequestration), os solos podem sequestrar até 2,05 pentagramas de CO2 equivalente por ano, compensando assim até 34% das emissões de gases de efeito estufa de terras agrícolas.
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