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Paraná se destaca em gestão das águas

Mas ainda há desafios e engajamento dos profissionais do Sistema Confea/Crea e de toda a sociedade é fundamental

Bacia Hidrográfica na Região Metropolitana de Curitiba
Denis Ferreira Netto – SEDEST

Paraná conta com 16 bacias hidrográficas e a gestão adequada passa pelo uso racional da terra, conservação e manejo dos solos para garantir quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Destas bacias, 11 contam com Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH), um passo importante em direção à gestão apropriada.

“O Estado tem bons instrumentos e está constituindo os CBHs que estão propondo planos, então está caminhando rumo a uma gestão adequada”, avalia o presidente do Crea-PR, Engenheiro Civil Ricardo Rocha. Mas, segundo ele, ainda há muito a avançar. “Os CBHs precisam ser efetivamente constituídos e ter seus planos de gerenciamento de processos e de outorgas efetivados”, ressalta.

“Atualmente, dos 11 CBHs em funcionamento no Paraná, cinco estão com seus Planos de Bacia aprovados, três estão em análise/aprovação e três estão elaborando os Termos de Referência” – Eng. Civ. José Luiz Scroccaro

Os comitês paranaenses se encontram em diferentes níveis de desenvolvimento, porque foram criados em momentos distintos e apresentam características peculiares. “Atualmente, dos 11 CBHs em funcionamento no Paraná, cinco estão com seus Planos de Bacia aprovados, três estão em análise/aprovação e três estão elaborando os Termos de Referência”, explica o Engenheiro Civil José Luiz Scroccaro, diretor de Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos do IAT.

Os CBHs são entes do Sistema Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos e constituem o “Parlamento das Águas”, espaço em que representantes da comunidade de uma bacia hidrográfica discutem e deliberam a respeito da gestão dos recursos hídricos compartilhando responsabilidades de gestão com o poder público, segundo definição da Agência Nacional de Águas (ANA). Em resumo, é o fórum em que um grupo de pessoas, com diferentes visões e atuações, se reúne para discutir sobre um interesse comum – o uso d’água na bacia.

Luiz Guilherme Grein Vieira, Engenheiro Ambiental, presidente da Associação Paranaense dos Engenheiros Ambientais (APEAM), explica que os CBHs são constituídos, geralmente, em meio a alguma crise. “Quando temos um problema como um período de estiagem, por exemplo, é provocada a criação de um comitê. É um processo que pode ser moroso. No Brasil, 18 estados, entre eles o Paraná, aderiram ao Programa Nacional de Fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas (Procomitês) que objetiva contribuir para a consolidação dos colegiados como espaços efetivos de implementação da Política de Recursos Hídricos”, conta. O Crea-PR tem diversos representantes que participam ativamente dos CBHs.

“Houve um grande avanço nos últimos anos que é muito importante, pois é a partir do estabelecimento deste colegiado que se inicia o processo de elaboração dos Planos de Recursos Hídricos e enquadramento dos corpos de água em classes para que se proceda, posteriormente, a instituição da cobrança pelo uso dos recursos hídricos”, evidencia a Engenheira Ambiental Julia Bianek. Ela fez Residência Técnica no IAT e atualmente trabalha na RHA Engenharia e Consultoria, atuando na coordenação e elaboração de Planos de Recursos Hídricos. 

Bruno Tonel concorda e ressalta que é preciso dar atenção para a importância de os CBHs implementarem os planos diretores e cumprirem suas metas. “Por meio da gestão compartilhada e participação de todos os setores da sociedade ”, salienta o Engenheiro Ambiental, ex-gerente de Gestão de Bacias Hidrográficas do IAT e também conselheiro e diretor do Crea-PR.

Piraquara na Região Metropolitana de Curitiba
Sanepar
Bacia do Paranapanema
Denis Ferreira Neto

Gestão 

Com a incorporação do Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG), e do Instituto das Águas do Paraná (AGUASPARANÁ), pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), ocorreu a transferência das atribuições dessas entidades à autarquia IAP, passando a se denominar Instituto Água e Terra (IAT).

“A partir deste momento, o IAT se torna o órgão executivo gestor do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH/PR), exercendo suas atribuições por meio de suas diretorias, dando um maior enfoque à Diretoria de Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos (DISAR) e a Diretoria de Licenciamento e Outorga (DILIO), que desempenham ações fundamentais para conservar a qualidade dos nossos recursos, garantindo o selo de Sustentabilidade ao Estado”, explica o Engenheiro Civil José Luiz Scroccaro, diretor de Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos do IAT.

Segundo ele, o órgão tem como um dos principais mecanismos, a gestão das unidades hidrográficas e a implementação dos CBHs. “O décimo segundo CBH está à espera do decreto de criação para sua consolidação. Tendo o IAT, por meio da DISAR, a competência de Agência de Água do Estado, perante aos CBHs atuando como Secretaria Executiva, dando suporte administrativo, técnico e financeiro para o avanço dos comitês. Também tem a atribuição de propor aos comitês, viabilizar e acompanhar a implementação dos seis instrumentos de gestão de recursos hídricos, previstos na legislação federal e estadual”, informa.

Planos diretores

Os Planos Diretores de Recursos Hídricos são documentos que definem a agenda dos recursos hídricos de uma região, incluindo informações sobre ações de gestão, projetos, obras e investimentos prioritários. Dos 11, em breve 12 CBHs do Paraná, apenas seis contam com planos aprovados. E destes, apenas um, o Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira (COALIAR), aplica cobrança pelo uso da água, conforme instituído na Política Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (Lei 9433/97).

“O principal benefício dos Planos Diretores de Recursos Hídricos é poder, na abrangência da bacia hidrográfica, ter um diagnóstico, verificar os diversos interesses e definir hierarquia dos usos com prioridades. Claro, a partir do que entendemos ser uma gestão participativa, ou seja, todas as partes envolvidas nos CBHs contribuindo com seu conhecimento e sua expertise”, ressalta o presidente Ricardo Rocha. 

“O plano traz uma visão holística não só dos recursos hídricos, mas também dos meios biótico, físico e socioeconômico. Assim, permite delinear cenários futuros e criar estratégias para o gerenciamento dos recursos hídricos na bacia em curto médio e longo prazo”, comenta a Engenheira Ambiental Julia Bianek.

Para auxiliar os CBHs o IAT está trabalhando na elaboração de uma minuta de Termo de Referência base, que servirá para nortear os termos de referência dos comitês para a contratação e elaboração de um plano de bacia que tem previsão de cenários para 30 anos. “Este documento que será proposto, deverá ser mais apropriado à situação e a realidade de cada região e será utilizado para a contratação e finalização dos Planos de Bacias faltantes com previsão até 2024”, antecipa Scroccaro, diretor de Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos do IAT.

Sanepar 

Companhia de saneamento participa como um dos usuários, aplica planos de conservação e paga outorga

A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) é responsável pela prestação de serviços de saneamento básico a 345 cidades paranaenses e, portanto, membro importante dos CBHs, já que utiliza águas das bacias para o abastecimento e despejo de carga. “Participamos praticamente de todos os comitês e estamos ampliando a nossa participação porque além de discutir o uso da bacia naqueles trechos onde existem mananciais é nossa prioridade a conservação e recuperação destas áreas para ter qualidade do recurso hídrico”, informa o Oceanógrafo e Geólogo Julio Gonchorosky, diretor de Meio e Ambiente e Ação Social da Sanepar.

Pelo uso da água para captação e diluição, a Companhia vai pagar este ano, referente a 2021, quatro milhões de reais ao Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira (COALIAR), único que aplica cobrança pelo uso da água. 

A Sanepar com o Plano de Segurança da Água (PSA) e investimento em infraestrutura pretende aumentar a resiliência da Companhia frente a eventos climáticos como a falta de chuvas observada recentemente. “É importante frisar que a estiagem que tivemos nos três anos passados foi muito além da normalidade e mesmo com todas as estratégias continuaríamos tendo rodízio e tendo dificuldades. Mas se tivermos mananciais e florestas bem preservadas mesmo com a estiagem teremos pouco mais de água e água de qualidade”, explica Gonchorosky.

Conservação

Desde 2019 a Sanepar está implantando o Plano de Segurança da Água (PSA) e um dos pilares é a conservação para garantir qualidade e quantidade de água nas bacias. O Fundo Azul é um dos recursos utilizados. “Por meio dele fazemos trabalhos em parceria com as prefeituras, cooperativas e proprietários para conservação de áreas, principalmente de APPs, que estão dentro de bacias de manancial”, frisa a Geóloga Ester Amélia Assis Mendes, gerente de Recursos Hídricos da Sanepar.

Como exemplo ela cita a parceria com a Frísia Cooperativa Agroindustrial e com bovinocultores das cidades de Castro, Piraí do Sul e Carambeí, que reduziu o aporte de matéria orgânica nos mananciais com adequação e isolamento das esterqueiras, melhorando a bacia.

Outro projeto citado é o pagamento por serviços ambientais nos reservatórios Piraquara I e Miringuava. Trata-se de uma compensação para os proprietários que tenham áreas conservadas na bacia. Isso é feito em parceria com as prefeituras. “O grande mote da Sanepar é no sentido de incentivo à recuperação e sensibilização dos principais atores da bacia hidrográfica”, aponta Ester.

Desafios e os profissionais do Sistema

CBHs enfrentam dificuldades na efetiva implementação dos instrumentos de gestão 

Entre os desafios que os CBHs enfrentam para se tornarem mais atuantes, está a gestão de conflitos pelo uso da água e a implementação de todos os instrumentos de gestão dos recursos hídricos. “Também representam desafios as capacitações dos representantes, a complexidade da gestão, a integração com as universidades para expandir sua atuação nos estudos das bacias e a baixa motivação e participação dos membros nas reuniões”, destaca Scroccaro, do IAT.

E é na participação que os profissionais do Sistema Confea/Crea têm a contribuir. “Muitos profissionais já participam seja nos CBHs ou nas empresas públicas, privadas ou do terceiro setor ligadas à questão hídrica. Também participam por intermédio das entidades de classe que conhecem suas regiões e contribuem com conhecimentos técnicos”, lembra o presidente Ricardo Rocha. 

O Engenheiro Ambiental Bruno Tonel vivenciou a carência de informações técnicas na prática. “Quando eu estava na gerência de bacias eu vi que existe uma falta grande de técnicos que entendem da área de meio ambiente e recursos hídricos nos comitês. Visto que os temas discutidos nos CBHs, como enquadramento dos corpos hídricos, outorga e cobrança pelo uso dos recursos hídricos, entre outros, são complexos e demandam membros com conhecimento técnico sobre o assunto. Acredito que a contribuição dos profissionais do Sistema e das entidades possa se dar no sentido de contribuir com as análises técnicas, tomadas de decisão e gestão dos CBHs, melhorando a qualidade e eficácia dessas atividades.”

Impactos ambientais 

Boa gestão pode minimizar problemas com secas e enchentes 

“Uma boa gestão das bacias pode reduzir ou até mitigar impactos como secas e enchentes. Os planos podem apresentar medidas que devem ser tomadas para, se não evitar, pelo menos reduzir os problemas. Isso se dará com a tomada de decisões no tempo adequado e terá impacto até nos custos, reduzindo medidas urgentes como, por exemplo, a escassez hídrica recente onde foi necessário implantar o rodízio e buscar água em locais não usuais e até fazer chover artificialmente. São medidas que geram um curso elevado para a sociedade”, explica Rocha. 

Para Julia Bianek a situação de estiagem enfrentada no Paraná trouxe ensinamentos. “Mesmo existindo um planejamento da operação dos mananciais de abastecimento, houve a necessidade de racionalização isso demonstrou que, além de olhar para o planejamento, torna-se cada vez mais necessário trabalhar com gestão de risco, considerando percentuais cada vez menores, a fim de se minimizar os impactos causados por eventos extremos”.

“Houve um avanço nos últimos anos nos CBHs que é importante, pois é a partir do estabelecimento deste colegiado que se inicia o processo de elaboração dos Planos de Recursos Hídricos e enquadramento dos corpos de água em classes para que se proceda, posteriormente, a instituição da cobrança pelo uso dos recursos hídricos,”- Eng. Amb. Julia Bianek

Sanepar atua na recuperação de áreas

Foco em parcerias para melhoria das águas nos mananciais

A Sanepar está com edital de chamamento público para ações de recuperação da Bacia do Rio Iguaçu, na Região Metropolitana de Curitiba. Serão feitas Soluções baseadas na Natureza (SbN) para conservação e melhoria da qualidade da água.

“O investimento é de R$ 7 milhões na contratação de estudos e projetos e os termos têm previsão de assinatura em fevereiro do próximo ano”, informa o Oceanógrafo e Geólogo Julio Gonchorosky, diretor de Meio e Ambiente e Ação Social da Sanepar.

São três lotes previstos:

  • Rio Açungui – estudos para identificar usos da bacia (Campo Largo, Campo Magro e Itaperuçu)
  • Rio Iguaçu – estudos para melhoria da qualidade da água a partir de SbN e ações de conservação da nascente até Porto Amazonas
  • Rio Iguaçu – estudos e projetos para identificar uso de águas

A área total contemplada pelas ações é de 200 quilômetros quadrados com águas e lagos. A meta é fazer um corredor ecológico contemplando fauna e flora. 

A atuação do Crea-PR nas bacias. Ouça a explicação do Engenheiro Civil, Euclesio Manoel Finatti, assessor parlamentar do Crea-PR e presidente interino da Bacia Litorânea

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3 comentários em “Paraná se destaca em gestão das águas

  1. João de Souza Santos disse:

    Boa tarde,
    Dei um verificada na página e achei bem interessante. Mas por outro lado como faço para ter o máximo de informação sobre a bacia do Rio Ivaí que banha vários município. Por exemplo a região noroeste está sobre qual aquífero? Há dados físico-químico dessas águas, quais as quantidades existentes, qual a profundidade média para se alcançar o lençol freático? Existe alguma limitação para uso de águas de forma industrial (engarrafamento/produção de bebidas em geral) Dados das periodicidades, das chuvas assim como suas quantidades médias?
    Na atualidade estou em fase final de um MBA da Usp focado em Gestão do Agro, e devo iniciar também um novo curso pela mesma universidade em Gerenciamento Ambiental, porém penso em expandir os conhecimentos e aplicá-los de alguma forma.
    Atenciosamente,
    João de Souza Santos

    1. Crea-PR disse:

      Oi, João! Tudo bem? Agradecemos seu comentário! Como seus questionamentos são bem específicos vamos te passar o contato do pessoal da Bacia do Alto Ivaí e do IAT, ok? Comitê da Bacia do Alto Ivaí – Presidente: Neuri José Dal Molin – neuri_jose@iat.pr.gov.br (mandato 2020 a 2024). Contato do Instituto Água e Terra para mais informações – Telefone: (41) 3213-4752. Ah, e parabéns por estar sempre buscando esse aperfeiçoamento! Quando tiver um tempinho dê uma olhada nos nossos cursos gratuitos 😁 https://www.crea-pr.org.br/ws/cursos-gratuitos-crea-parana/.

  2. SIMONE APARECIDA QUIEZI disse:

    Olá João, sou doutoranda em História (UEM-PR) e pesquiso a bacia hidrográfica do Rio Ivaí quanto a seus usos humanos e não humanos, os interesses e disputas pelo rio, na perspectiva na História Ambiental. Podemos trocar experiências, caso seja do seu interesse.

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