RENOVAPR: Avanços no meio rural
Programa se consolida mudando histórias de produtores e pretende incentivar a diversificação do uso de fontes renováveis abrindo nova frente de atuação a profissionais
Idemar Dalberto tem 55 anos e uma propriedade de 20 hectares em Nova Prata do Iguaçu, Sudoeste do Paraná. Desde novembro de 2021 ele aumentou os ganhos com sua propriedade. Mas o perfil não mudou. Segue com um rebanho de 55 cabeças entre vacas e bezerros, sendo que 36 estão produzindo um total de 25 mil litros de leite por mês. Então de onde vem a economia? Ele explica: “o que mudou foi ter feito um dos melhores investimentos que fizemos até agora na propriedade em que estou desde que nasci, instalamos 60 placas solares. Estamos pagando o financiamento e está sobrando dinheiro”, comemora.
A conta de luz que em novembro de 2021 era de R$ 1350 baixou para R$ 56 em janeiro de 2023. E para o dinheiro que sobra o produtor já tem planos de fazer uma reserva. “Quero reinvestir na propriedade fazendo melhorias”, conta.
A história de Ildo Alexandre Rottoli é parecida. Ele também comemora a economia que vem fazendo. Em janeiro de 2022 a conta de energia elétrica girava em torno de R$ 3 mil por mês e janeiro deste ano baixou para R$ 227 mensais. Isso porque o aviário onde cria 34 mil frangos agora conta com 144 placas fotovoltaicas instaladas.
A propriedade fica em São João do Oeste, Cascavel. “Tem anos que eu queria investir em energia solar porque o custo com energia elétrica em um aviário é alto. Mas como minha propriedade é pequena eu não conseguia o dinheiro necessário para realizar essa minha vontade”, explica.
As duas histórias acima são apenas uma pequena amostra dos resultados do programa Renova PR, lançado em julho de 2021. O programa fomenta a geração de energia limpa, ao mesmo tempo em que promove desenvolvimento no campo e reduz os impactos ecológicos nas cadeias de produção. Isso acontece por meio de condições especiais e juros subsidiados para agricultores e empresas investirem na autoprodução de energia solar, biogás e biometano, com a possibilidade de reduzir custos de produção e ampliar suas atividades, com a devida adequação ambiental. Todos os produtores rurais podem participar do programa – pequenos, médios e grandes.
Análise
O programa é um passo concreto de que, por meio de políticas públicas, é possível colocar a questão da geração própria de energia e energias renováveis na pauta da população. “Neste caso voltado ao nosso recorte que é o meio rural que tem muito a se beneficiar com a prática”, explica o Engenheiro Agrônomo Herlon Goelzer de Almeida, coordenador do Programa Renova PR no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná).
A mudança recente no programa é que o subsídio dos juros mudou. Quando lançado, em agosto de 2021, o programa era a juro zero. Agora, o subsídio se limita a 3%. “Isto já estava previsto desde o lançamento e agora é realidade”, explica o coordenador.
Também terminou em dezembro o prazo para migração dos produtores que eram beneficiados pelo Tarifa Rural Noturna (TRN) para o Renova PR. O Programa Tarifa Rural Noturna havia sido prorrogado por dois anos pela Lei 19.812/2019 e itens dispostos na Lei 20.435/2020. Segundo dados da Companhia Paranaense de Energia (Copel) o TRN beneficiava 12 mil produtores.
“O que observamos é que boa parte dos beneficiados era a fatia mais capitalizada do meio rural”, observa Almeida. Segundo ele, todos tiveram prazo e informação suficiente para aderir ao Renova PR que tem se mostrado mais democrático ao atender a produtores de todos os portes, “desde o pequeno agricultor familiar até as agroindústrias”, ressalta.
O potencial do programa é chegar aos 340 mil produtores que atuam no Paraná. “Nosso acompanhamento mostra que pelo menos 50% do público atendido pelo TRN fez a migração. O restante, presumimos que optou por fazer as instalações de geração própria renovável por conta própria. “O retorno é certo seja com subsídio ou sem. Nossos cálculos demonstram que o investimento em uma instalação de energia solar, por exemplo, se paga em média em até 48 meses. Caso seja feita pelo Renova PR – que garante o parcelamento do pagamento em 72 meses – o custo se paga bem antes do fim do parcelamento. Isso mostra um alto retorno financeiro”, afirma o coordenador do programa.
“E o sistema fotovoltaico tem uma vida útil média de 25 anos”, completa o economista Luiz Eliezer Alves da Gama Ferreira, analista técnico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), mostrando mais uma vantagem econômica.
“É importante frisar que para a classe rural a energia elétrica é um insumo considerável. Na avicultura, por exemplo, é o principal item do custo de produção superando nos últimos anos a mão de obra e o Paraná é o maior produtor exportador de carne de frango do País. Tem frango paranaense em 200 países do mundo”, informa.
Vitrine ambiental
“Estamos em um novo momento no Brasil e no mundo. A produção de proteína animal, especialmente, a avicultura paranaense é voltada à exportação. E quando se produz de forma mais sustentável, economicamente e ambientalmente com energia limpa, agrega-se mais valor e aumenta-se a renda do produto, pois o custo de produção é menor”, conta. Segundo Ferreira, o programa Renova PR fornece condições de o produtor rural investir e tornar a sua propriedade mais tecnológica.
A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) também entende que a energia renovável traz uma sustentabilidade para toda a cadeia. “Com o uso de energia limpa todos são beneficiados”, informa o economista Salatiel Turra, analista de Desenvolvimento Técnico do Sistema Ocepar. A Ocepar fez um trabalho de conscientização junto aos cooperados para adesão ao programa.
Futuro
Atualmente o programa incentiva duas modalidades: a energia solar que é mais popularizada, mais simples e mais rápida e o biogás/biometano com aproveitamento de dejetos agrícolas ou animais. “Mas pretendemos este ano entrar em outras modalidades que são as microturbinas hidráulicas – empreendimentos pequenos que não precisam de barramento, barragem e não tem impacto ambiental – e eólicas de pequeno e médio porte – com menos de 45 metros de altura”, antecipa o Engenheiro Agrônomo Herlon Goelzer de Almeida. A diversificação também representa uma nova frente de trabalho para os profissionais das áreas tecnológicas.
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